RELEITURAS - Vou-me Embora pra Pasárgada

os lermos um poema que tenha algo de marcante, nos surpreendendo quanto a mensagem, nos fazendo vagar ao enlevo das palavras, acende em nossa mente o desejo de nos estendermos através daquele momento e com o autor travar um sublime diálogo de emoções.

O projeto Releituras é a expressão emotiva de um poema permanecendo através de novos textos com as características que cada leitor-poeta traz em sua visão pessoal; interpretando, opinando, redirecionando e multiplicando o poema em foco.

poema:

Vou-me Embora pra Pasárgada

(Manuel Bandeira)
 
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
 
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Releituras
 
Também fui para lá

A correnteza
da vida
me leva
ao seu abraço.
 (me conforto nele)
 Quero mais
: afundar minhas obrigações
nas suas águas
nuas.
 :ir
além-mar
me debruçar
nas nuvens
e colher alguns
sonhos.
 : da linha
do infinito
ver nascer
letras
e compor
poemas.
 E, quando
a noite cair
e cobrir
minha sombra...
deitar no tempo
e deixar que
um breve vento
me fecunde – cá –
em Pasárgada.

II

Uma viagem para lá: Pasárgada
                                               
Do balanço da velha cadeira
de madeira
rumo à Pasárgada
onde me espero.
Lá poderei comer sorvete de massa
batata-frita  hamburguer  pasta
tudo que me liberte
deste regime de dor que mata
Lá terei noites e dias
de prazer e  de lazer
tudo sem frescura
próximo e à altura.
Lá poderei de tudo
tudo               tudo
até deixar
a cadeira balançar
solitária
a entreter-se com o nada.
 
Valéria Rodrigues Florenzano 

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