RELEITURAS - CLÁUDIO MANUEL DA COSTA

Aos lermos um poema que tenha algo de marcante, nos surpreendendo quanto a mensagem, nos fazendo vagar ao enlevo das palavras, acende em nossa mente o desejo de nos estendermos através daquele momento e com o autor travar um sublime diálogo de emoções.

O projeto Releituras é a expressão emotiva de um poema permanecendo através de novos textos com as características que cada leitor-poeta traz em sua visão pessoal; interpretando, opinando, redirecionando e multiplicando o poema em foco.


poema:


Soneto LXXI
(Cláudio Manuel da Costa)

 Eu cantei, não o nego, eu algum dia
Cantei do injusto amor o vencimento
Sem saber, que o veneno mais violento
Nas doces expressões falso encobria
 
Que amor era benigno, eu persuadia
A qualquer coração de amor isento
Inda agora de amor cantara atento,
Se não lhe conhecera a aleivosia
 
Ninguém de amor se fie: agora canto
Somente os seus enganos; porque sinto,
Que me tem destinado estrago tanto
 
De seu favor hoje as quimeras pinto:
Amor de uma alma é pesaroso encanto;
Amor de um coração é labirinto
 


Releituras 



Desengano

Sem mágoa, dei-te amor, mas eu confesso
que mais tarde o amor se fez ausente,
pois agias de forma irreverente,
com ar de quem já vive como egresso.

Bem sei que o desengano está impresso
no peito de quem sempre foi ardente
e que um dia amou muito intensamente
sem pensar num possível insucesso.

Mas vou fazer esforço sobre-humano
pra tentar te tirar do coração
e esquecer este triste desengano,

procurar quem me dê mais afeição,
que não tenha sentimento leviano.
Não mereço mais tanta ingratidão.

Deise Domingues Giannini



Eu cantei e amei um dia e não nego;
descobri injustiças, desencantos
e agora com medo já não me apego
pois bebi do veneno e caí em prantos.

Mas agora, eu bem posso estar curado,
vou tentar não cair em armadilhas,
o que sofri está cicatrizado,
mas vou deixar de lado as maravilhas.

O que canto do amor são desenganos,
e não me curvo a sentimentos puros,
pois suas teias me causaram danos.

Hoje do amor eu só pinto o escuro
e a minh’alma que ainda engano,
dorme em labirintos febris, impuros

Marly Barduco Palma 
  


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