Aos lermos um poema que tenha algo de marcante, nos surpreendendo quanto a mensagem, nos fazendo vagar ao enlevo das palavras, acende em nossa mente o desejo de nos estendermos através daquele momento e com o autor travar um sublime diálogo de emoções.
O projeto Releituras é a expressão emotiva de um poema permanecendo através de novos textos com as características que cada leitor-poeta traz em sua visão pessoal; interpretando, opinando, redirecionando e multiplicando o poema em foco.
poema:
Vogais
(Rimbaud)
A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul:
vogais de vós direi as matizes latentes:
A, peludo corpete de luzentes
moscas volteando em pútrido, cruel paúl,
golfos de sombra; E, tendas, graças dos vapores,
lanças do gelo, brancos reis, tremor de umbelas;
I, púrpuras, hemoptises, rir de bocas belas
na cólera, em remorsos embriagadores.
U, ciclos, vibrações divinas do verdeado
mar, paz dos apascentos, paz do enrugado
que a alquimia imprime às fontes sobre os fólios;
O, supremo Clarim, cheio de silvos fundos,
silêncios trespassados de anjos e de Mundos:
- O de Ômega, raio violeta dos seus olhos.
RELEITURAS
Vogal A
A "chAmA" ApAgA A luz do diA.
A lÂmpAdA dA almA se desligA
A mAnhà deixA de ser amigA.
A noite serÁ AindA mAis sombriA.
AtrÁs dA cAsA, A plAntA vivA
PlAntAdA nA lAmA escurecidA
nÃo se AbAte, se mAntém AltivA
TrAz umA pAz jAmAis sentidA.
A vidA Aos poucos vAi se ApAgAndo.
A dAmA percebe Á suA voltA o breu
A noite fAtídicA estÁ chegAndo.
E quAndo no jArdim A plAntA floresceu,
O negro, de tudo foi-se ApoderAndo
A plAntA sobrevive, mAs A dAmA jÁ morreu.
Ludimar Gomes Molina
Tudo azul
O “o” cor do céu, cor do mar,
cor de tantas flores, do amor divino...
“O” lembra a imensidão do mar,
céu infinito, límpido de outono.
Pena que a letra A não seja “o”
Nem no céu azul ele aparece,
Mas, para meus olhos, eu vejo o “o”
De um azul lindo como uma prece
Mulheres belas que a tudo seduz
logo de manhã me dizem: bom dia!
Fico tão fascinada, tudo é luz!
Olhos que brilham de noite e de dia,
aquelas que os olhos brilham na luz
“o”, o belo olhar da virgem Maria!
Marly Barduco Palma
É rubro meu “i”
O meu “I” é rubro, é da cor do vinho.
Como rubro é o corpo estendido ao chão.
Sobre o rubro solo, em puro desalinho.
Com o rubor da vida estampada na mão.
Com os olhos abertos para o rubro infinito.
Com rubras palavras implora compaixão.
Os rumores da turba soando esquisito.
Com o rubro da vida se esvaindo então.
Contem o rubro choro e tenta sorrir.
Vê o céu de rubro a se transformar.
É chegada a hora, precisa partir.
Bombeiros rubros, ainda, vê chegar
Mesmo sem forças consegue sorrir
Bebendo o rubro das lágrimas, que deixa rolar
Olímpio Coelho
O “A” negro
Em um oceano de cores
as cinco vogais se banharam
Límpidas pétalas de flores
coloridas se mostraram
A letra “A” se fez negra
qual um noturno abismo
Impondo a si mesmo a regra
de anoitecer seu destino
não para ocultar-se das outras
Porém, qual enegrecida folha
ou, até, concha de uma ostra
guardou-se em escurecida bolha
que a realça quando a mostra
Vieira Vivo
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